É madrugada.
Estilhaços de sonho rasgam minha carne, acordo suado e tremendo, torno a fechar os olhos, abro novamente, é como se vivesse um sonho dentro de um sonho, sinto a angústia boba da falta de um carinho, queria alguém para abraçar agora, mas são 5 da manhã, nem meu cachorro abanaria o rabo a uma hora dessas.
Levanto, os olhos pesam, mas imploro por não dormir, tento ficar lúcido, vou no banheiro me debruço em frente a pia, me olho no espelho, não consigo me reconhecer, sou um estranho a mim mesmo, a sombra de quem já fora. Jogo água na cara, ela está tão fria que é como se canivetes estivessem cortando meu rosto, seco-me na toalha suja que ainda tem seu cheiro, sinto como se fosse hoje o aroma do perfume vagabundo que eu mesmo te dei, é como se pudesse tocá-la, para por um instante e eternizo esse momento na memória, .
Ligo a televisão, talvez uma bobagem ou outra para me distrair, assalto a geladeira, só a mesma porcaria enlatada de sempre, minha comida, minha vida, meus sentimentos, são todos artificiais. Penso longe, na saudade que faz aqui, parece tudo tão vazio sem você por perto. Seu sorriso preenchia todos os espaços, tudo soava melhor do que realmente era, nada me faltava ao ver seus lábios abertos de orelha a orelha. Pequenina, te colocava em meus braços e chamava de bebê, você me chamava de papai e éramos felizes de um jeito bobo que só nós entendíamos.
Desligo a televisão, pego a toalha de rosto no banheiro, me deito na cama, cheiro ela mais uma vez, aperto-a contra o peito e enfim consigo dormir, todo encolhido feito criança, criança que sou.
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