sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O mundo em nós

Acredito que sempre escolhi bem minhas amizades, se é que tive escolha ou apenas sorte, cada pessoa parece surgir no momento exato em minha vida, como se fosse algo sistemático, uma espécie de quebra cabeça que vai minimamente se encaixando com uma razão especial.

Você não precisa ficar horas conversando para sentir quando as coisas se conectam, podem ainda não ter aberto a boca, mas tem a certeza que daquele momento em diante, depois que seus olhos se cruzaram, as coisas jamais vão voltar a ser como eram.

Os amigos de verdade, mesmo sem perceber, fazem parte íntima de nosso desenvolvimento. Quanto maior a intensidade dos laços que ligam cada um, maior é a mudança que um proporciona ao outro, você muda quem está por perto, eles mudam você, é inevitável.

É fácil notar tudo o que somamos a nós que vieram de outras pessoas, dos mais simples hábitos a heranças que transformaram a nossa personalidade. Nós somos nós e mais um milhão de pessoas, nós somos o mundo montado em pedaços de mosaico, cada pessoa um recorte de milhares.

Quem você é se deve aos que caminharam ao seu lado, que mostraram que caminhos tortuosos e errantes são apenas um pouco do que define a existência humana, e como está falta de sentido pode ser suavizada pelo afago do abraço, ame aos amigos, porque você nada mais é que suas amizades.

sábado, 7 de agosto de 2010

Embriaguez

Sentado no bar, fitando a garçonete que aquela altura pareceria a mais linda das mortais, benefícios do álcool que faz do tosco belo e do belo divino. Acende o cigarro e mergulha no copo de uísque junto a mesa, pigarreia palavras por entre a fumaça e suplica aos céus para nunca mais ter um dia como aquele, sempre foi homem de fé, acreditava em Deus, era uma pena que Deus não acredita-se nele.

Tragou a fumaça mais uma vez, o cigarro ao final, apagou no próprio pulso, ele queria saber se a dor fisica poderia aliviar a tristeza que inundava seu peito, em vão, não que aquele dia tenha sido diferente dos outros, foi os mesmos 364 que haviam se seguido anteriormente, os dias continuavam iguais, era ele que havia mudado.

Despertou, cansou de vagar sem significados e decidiu reavaliar seus conceitos, durante toda sua vida acumulou coisas e agora via que estas coisas já não faziam sentido para ele, descontou sua dor nos copos, fez deles seus amigos e os convidou para dançar na balada da morte, incrível como nosso discernimento de verdade muda quando estamos perto do fim.

O médico lhe dera dias , ele tinha câncer, a morte a espreita, como se o esperasse na próxima esquina, desejou ter alguns anos de vida, queria ser finalmente feliz, fazer o que realmente gostava, mas era tarde demais, o sinal já estava fechado para mudanças, havia vivido uma vida vazia e de consolo apenas a certeza do fim e claro, a embriaguez.