Sentado no bar, fitando a garçonete que aquela altura pareceria a mais linda das mortais, benefícios do álcool que faz do tosco belo e do belo divino. Acende o cigarro e mergulha no copo de uísque junto a mesa, pigarreia palavras por entre a fumaça e suplica aos céus para nunca mais ter um dia como aquele, sempre foi homem de fé, acreditava em Deus, era uma pena que Deus não acredita-se nele.
Tragou a fumaça mais uma vez, o cigarro ao final, apagou no próprio pulso, ele queria saber se a dor fisica poderia aliviar a tristeza que inundava seu peito, em vão, não que aquele dia tenha sido diferente dos outros, foi os mesmos 364 que haviam se seguido anteriormente, os dias continuavam iguais, era ele que havia mudado.
Despertou, cansou de vagar sem significados e decidiu reavaliar seus conceitos, durante toda sua vida acumulou coisas e agora via que estas coisas já não faziam sentido para ele, descontou sua dor nos copos, fez deles seus amigos e os convidou para dançar na balada da morte, incrível como nosso discernimento de verdade muda quando estamos perto do fim.
O médico lhe dera dias , ele tinha câncer, a morte a espreita, como se o esperasse na próxima esquina, desejou ter alguns anos de vida, queria ser finalmente feliz, fazer o que realmente gostava, mas era tarde demais, o sinal já estava fechado para mudanças, havia vivido uma vida vazia e de consolo apenas a certeza do fim e claro, a embriaguez.
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