Água clara

Não quero confundir os pensamentos e embaralhar meus desejos, porque na verdade está tudo claro de enxergar. Eu preciso é de um motivo pra sorrir, não alguém pra sorrir por mim. Já tenho deixado pessoas demais fazerem, o que eu deveria estar fazendo. Algo como, ser feliz.

Cresceu ainda menino

Quando penso no estado que as coisas tomam, nas batidas do relógio que acusam a idade, lembro do que era pra mim ser um homem. Pensava ser a ausência de medos, mas vejo nos olhos de meus pais os mesmos medos que sempre tive. Hoje sei que não existem adultos, somos todos só crianças velhas, corroídas pelas mesmas inseguranças.

Sem bagagem

Resolveu viajar. Durante o caminho tão estreito notou que mal cabia ele, viu que ali não havia espaço para mais ninguém. Foi obrigado a deixar na estrada suas memórias. Carregou na bagagem somente uma mochila vazia. Mais tarde contou-me, a levará para encher de amor, de novo.

Amor a toda merda

Esse descaso com as obrigações, a falta de tentar ser bem sucedido aos olhos dos outros, este é o motivo de minhas alegrias. O sucesso de não me envergonhar por não ser tudo que esperam de mim e a capacidade de sanar todas as minhas angústias nos encantos de algumas cervejas. Me sentir bem em ter uma vida sem laços, onde só estou atado a minha paz e nada mais importa, porque no fundo não há nada para se importar. Nada que valha o tempo em que eu poderia estar bebendo novamente. Está é a vida de merda que levo, e no fundo até amo.

Entalhar na pele

Queria você aqui na estante, exposta ao lado dos meus melhores livros. Pra quando vir a saudade poder te ler bem devagarinho, saboreando cada vírgula. Entalhando teus versos na minha pele, até saber de cór a nossa história.

Enquanto você dorme

Enquanto ela dorme vou ficar aqui torcendo, pra caber todo esse amor apenas no meu peito. Tenho medo é que não de pra amar nós dois sozinho. Queria que teu coração pudesse me ajudar. Antes que você acorde e lembre que já não me ama.

Se você não estivesse lá

Toda vez que chego na esquina, tão perto da nossa casa, fico imaginando como seria se eu cruza-se a porta e você não estivesse lá. É nessa hora que acelero os passos. Eu vou correndo te encontrar, pra fugir do medo de não te ver.

Estações

O vento beijou de leve os galhos, derrubando as folhas, que caíam por se lembrarem que era outono. Enquanto as pequenas pétalas mergulhavam em direção ao solo, despediam-se da vida flutuando feito plumas, saudando aquele céu azul tristeza. Até a flor sabe a hora de partir. Ele teria de aprender com ela.

Rei

O que existe de vida em mim está dentro, não fora. Meus sentimentos hibernam num inverno eterno. Eu não demonstro o que eu quero, eu não sei o que quero. Vivo de uma forma crua, tecendo o meu destino a cada esquina. Eu sou rei, no meu mundo de faz de conta.

Autodidata

No amor, tem que ser autodidata. Cedo ou tarde ficar sozinho, aprender a viver entre os murros e os abraços. Talvez no fundo nossas dúvidas sejam as mesmas, mas as respostas, completamente diferentes. Ninguém vai te ensinar a ser feliz, nem sarar por você as feridas abertas. Um dia a gente aprende, a cicatrizar essa vida.

Tua janela

Fiquei parado, fitando o tempo fazer seu trabalho. Quieto, esperando o dia de não mais sentir. Só para ter certeza de que quando voltasse aquela rua e visse tua janela, não teria de fingir ser um pouco mais feliz. Porque, enfim, seria.