Pensar nos assuntos que sempre se quis escrever, tentar, tentar e jámais rabiscar uma única frase, titubear entre as palavras como o menino que risca o alfabeto pela primeira vez e se perde nos sentidos de cada letra. Dificil é, admitir o que nos tira o sono, quando chega o momento em que temos de nos despir de todos os laços que enfeitam nossa insegurança e falar abertamente do que somos feitos, a pura essência do que nos tornamos.
Estranho e triste saber o que se quer falar, fantasiar como seria escrever o melhor texto que se pode imaginar, mas temer que as palavras não brotem como uma flor na primavera e sim se vão para longe como as folhas secas do outono. Frustrar-se ao entender que realmente não sabes expressar o que sente, não que faltem palavras e sim lhe falta talento, enxergar as limitações em cada traço de seu texto e sentir o desconforto de pensar que és mais um.
Há dias em que se o papel falasse seria mais simples e menos dolorido, ser infinitamente promissor e no fim dar menos do que se espera, isso nos amarga. Imaginava-se imbátivel com a caneta e o papel mas hoje escrever é desgastante, as idéias que mais o alegra são também as que mais o intriga.
E mesmo assim interessantemente segue os velhos ritos de escrita que tanto estima, debatendo-se no mar de palavras que criou para si, nos livros em que mergulhou ainda quando criança e que o tornaram se não melhor, ao menos mais feliz.