quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Gotas amargas

No céu um dia sem sol, que lembram tantos dessa primavera vestida de inverno. Nas gotas amargas que caem sobre o telhado de zinco, ecoa o som dos sonhos, que se despedaçam junto as telhas. Na rua o vento recorta os rostos desconhecidos, que poderiam ser qualquer um de nós. E nestes pálidos dias de frio, nos aconchegamos sobre os trapos costurados um a um, aquecendo a alma para se manter vivo de espírito. Durante a noite atiramos em escolhas no escuro, mirando alvos invisíveis, tentando acertar nossa conta com o passado. Nestes instantes caberiam uma vida, onde enfim teríamos tempo de falar das pessoas que ninguém nota e ninguém vê, do senhor da padaria, do rapaz que pede dinheiro na esquina, na moça que varre o chão, dos milhares que nascem, dos milhões que morrem, despercebidos pelo próprio destino, que amam como amamos, que sentem como sentimos, mas não são vistos como merecem, porque tenha certeza elas sonharam como você sonhou. Nesta imperfeição de todos os caminhos cruzados, é fácil guardar o que se quer e excluir a vida ao redor, negando nosso próprio pertencimento ao mundo, confinados em ilhas, imersos em arrogância...no fim todos calam-se e as gotas de chuva seguem correndo, derretendo pelas bordas de cada vida, secando nas adversidades de cada jornada.

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