domingo, 30 de janeiro de 2011

Porta retrato

Eu sinto a força oculta de um desejo que nunca aconteceu, vejo as velas que escorrem na cera desses dias de tédio, elas formam no escuro a imagem de dois pares. E nós dançamos a sombra de nossos corpos, num ritual que imita o amor. Você disse que mataria por mim, eu jurei viver por você. Sobre o cabeceira da cama dormem os porta retratos, lembranças congeladas, cristalizadas na nossa memória. A mais amor naquele papel de fotografia, do que em metade das vidas que já vi. É díficil pensar em jogar tudo isso fora, não tenho coragem...não sei se quero ter.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Nunca fui quem eu era

Estou desaprendendo a ser eu mesmo. O problema de mudar constantemente é que as poucos você vai desaparecendo, vai deixando de ser quem era, para se tornar um estranho, desconhecido. Se eu não lembro quem eu sou, quem irá notar quando eu partir? Às vezes tenho um medo de ser esquecido, de não ser lembrado como devia, mas se fosse explicar quem fui, ninguém nunca entenderia, eu nunca soube, nunca sei.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Diferentemente Igual

Me guardo aqui sozinho, inventando meu próprio tempo na distração de velhos discos, que não são meus e que jamais vou devolver, estes empréstimos eternos. Tem um certo amargo sedutor nos objetos roubados, o beijo roubado, o amor roubado...E neste disco que nunca foi meu, escuto sempre a mesma canção e ela soa diferente a cada repetição, não sei se é a música que toma outra forma ou meus ouvidos que apelam para outras notas. Quem sabe viver seja isso, conceber os dias iguais de formas diferentes, somos todos diferentemente iguais.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O tempo levar

Seu lado mau, me fazia bem. Nós tivemos um breve ensaio sobre felicidade, tão curto quanto os bons momentos são. Mas cedo ou tarde você nota sem querer que amor, rima com dor. Como te desejar feliz ano novo, se quero de volta o ano passado, o nosso passado. Adeus sempre foi um modo estranho de dizer que te amo.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Fúria

Sinto a pressão dos seus punhos, eles estão cerrados na forma de um coração, o coração que eu te dei. Você incorpora a revolta, arremessa seus vasos contra minha cabeça e me despreza por não ser feliz, e eu não te culpo, por saber que você tem razão. Pés descalços, caminha sobre os cacos de vidro, restos de sua fúria, sangra, o vermelho tingindo as ranhuras no chão, manchando a nossa história de vermelho. Para me ferir você sabia que teria de se cortar, eu te súplico para parar, querendo que você continue, porque só vou descansar quando você morrer, aqui dentro de mim.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Santo Homem

Ele era um santo homem, nunca cometeu um pecado, por não acreditar neles. Se dizia sábio, pois amava tudo pela metade, falava "quem ama por inteiro, perde o egoísmo, e um ser sem egoísmo aos poucos esvai sua personalidade, deixa de nutrir todas as cores que uma pessoa pode viver", era mentira, ele amava demais, mas essa história sempre impressionava as garotas, esse olhar sem medo. Sua ganância era provar tudo, mas preferia o simples, a música no rádio e o vento no rosto. Sempre se perguntou porque uma pessoa diz que errar é humano, mas nunca se diz humano quando faz algo bom. Nós valorizamos demais os defeitos, talvez por isso ele se dizia santo, por não ver as coisas como um erro, mas sim uma tentativa de acerto, de acertar as contas com o passado.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Se for saudade

Eu te tocaria com a ponta dos dedos, como se pudesse ler cada pedaço do teu corpo, para guardar em mim uma recordação da tua pele. É claro que faz alguma falta, uma necessidade parecida com saudade, mas já senti falta de tanta coisa e mesmo assim continuo aqui. Talvez dia desses eu possa fraquejar e te dizer coisas estúpidas sobre o que eu ando sentindo, mas hoje não, hoje é só mais um dia difícil, de tantos que venci sozinho.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ao mestre João Nogueira

cadêncio o meu ritmo

num samba nosso de raiz

e nos embalos desse mar

acelero o compasso

conforme a vida diz

encontro meu swing

na calma de um refrão

onde bordo as notas

da mais bela canção

que dia a dia

tecem o meu som

transformando em harmonia

sem nunca errar o tom

permito perder-me num segundo

para buscar minha rima

meu par, paralelo

nos ecos da tua voz

que para mim é melodia

se “toda tristeza um dia vem,

toda felicidade um dia vai,

mas quem sou eu pra decidir?”

não vale a pena se enganar

a vida é deixar-se levar

A vida é ir.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Para si

Ver o por do sol da sacada foi como lembrar do tempo em que esteve vivo, que provou todos as coisas que lhe faziam algum sentido. Sem pudores viveu para si, sem sentir a pressão de ser bem sucedido, afinal sucesso nunca foi sinônimo de felicidade, não para ele. Frequentou os piores bares que a noite poderia oferecer, brindou aos mortos e a quem não era forte suficiente para chorar, se justificava dizendo"Sorrir qualquer um consegue, mas para que serve isso?". Hoje vive apagado sobre a sombra do seu passado, não há ninguém para se orgulhar da vida que levou e isso não importa, nada importa. Ele só quer ficar em sua casa, que é seu reino, cortejando o sol e reverênciando a lua, ser parte de algo maior, porque no coração do mundo é o seu lugar, longe de todo caos que criamos além de nossas portas.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Lá vem ano

Um provérbio chinês nos diz que "Toda grande caminhada começa com o primeiro passo" e hoje iniciamos a nossa trajetória por mais um ano. Após brindes, votos de felicidade, champagne e ressaca, rumamos para 365 dias que ainda são uma incógnita. Durante esse ano é certo que teremos dias alegres e dias difíceis, é inevitável, mas caberá a nós a tarefa de maximizar nossos alegrias e minimizar as tristezas. O primeiro passo tem de ser dado, então que seja com o pé direito.

É isso aí pessoal, um 2011 fodástico para todo mundo!