segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Vida de empresário

Consegui realizar meu sonho de ser empresário. Tornei-me um manager do ramo alimentício, pioneiro, o primeiro vendedor de sacolé da região. Não era o que eu imaginava de início, mas era melhor do que nada. A única coisa que me irrita é o fato de morrer socialmente, você deixa de ser uma pessoa quando começa a ser vendedor ambulante e se torna apenas “O tio do sacolé”, podemos encontrar a mesma pessoa durante todos os dias de nossas vidas, mas tenha certeza, ela nunca vai te chamar pelo nome, se sair um “Senhor” ou até “Tiozinho” já se sinta feliz, é o melhor que pode acontecer.

Os negócios não andam bem ultimamente, essa crise externa, o aumento do dólar e ainda por cima o fato de estar chegando inverno estão acabando com minhas projeções. Comecei a ver que vida de empresário não é nada fácil, logo logo vou ter que investir em infra estrutura, minha caixa de isopor está furada e a alça está arrebentando, não sei mais por quanto tempo vai aguentar, tive de diminuir o tamanho do sacolé e ainda por cima aumentar a quantidade de água, afinal a gente se vira como pode.

Os clientes andam reclamando, chegam a me hostilizar, eu sigo fingindo não dar bola, concordo e prometo melhorar, eles reclamam mas compram, deve ser o efeito do menino raquítico que contratei para me ajudar nas vendas, ele faz cara de coitadinho, encolhe a barriga, mostra as costelas e pimba, mais um cliente conquistado, todos se comovem a alguém com fome, o problema é dividir os lucros.

Certo dia um senhor entendeu minha jogada, e viu que o moleque que estava comigo era malandro, que o dinheiro era gasto com crack e não comida, tive de demitir o garoto, é complicado esse lance de ser patrão, desde então tenho tido de me virar sozinho. Quero ver quando descobrirem que não uso mais Tang e sim Kissuco do É o Tchan, estou me preparando para o pior.

Talvez mude de ramo, está na hora de respirar novos ares, tenho uns amigos faturando alto nos semáforos, é uma saída, o foda é que não sei fazer nenhum malabarismo, sou muito descoordenado para essas coisas, nasci para ser um homem de negócios, não para trabalhar no circo. O jeito vai ser vender sacolé no semáforo, vou arriscar, vai que a moda pega.

Um comentário:

  1. Guilherme

    Gostei da estratégia utilizada para construir a narrativa. Quanto ao conteúdo do texto, seria cômico se não fosse real.

    PS: Pôxa! Mudou o link e nem me avisou! Fiquei dias procurando o seu blog. Sabe o que descobri em minhas estatísticas? Que você passa sempre no meu e não deixa nem um oi! risos

    Boa semana, bjs!

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