sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O mundo chorava

Os olhos enrugados e fundos, num lugar onde ninguém entendia o motivo, por não saberem como é ser velho aos 20 anos. Neste momento, quando notei as gotas que caiam do meu rosto, pensei em todas as pessoas que também estavam a chorar naquele instante, os pais que perderam seus filhos, os filhos que perderam seus pais e nas infinitas formas de tristeza que colorem nossas vidas de cinza. Descobri em mim compaixão por cada um que já sentiu o que senti, de algum modo estávamos ligados pela mesma dor. Eu sofri, mas não sozinho, o mundo chorava ao meu lado.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Álcool e alento

Prostrado na mesa da sala, onde repousam as flores que te dei, agora murchas, tão perecíveis quanto nosso amor. Bebo o copo de bebida forte, que queima todas as lembranças, meu alento é esse deleite de afogar cada recordação uma a ama, como o frustrado amoroso que rasga as fotos, empilhando os pedaços do seu passado. Eu curo minha ressaca com doses duras de realidade. Acordo sem abrir os olhos, virar para o lado e não ver você na cama é o mesmo medo que ainda me faz dormir abraçado no seu travesseiro. Se me olhando assim de fora acha que as coisas perderam o controle, imagine o caos aqui dentro. Tente.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Salítrico

Meu universo gira ao redor do teu umbigo. Eu contrario as leis naturais, abraço o perigo, só para sentir nos meus lábios o arder salítrico de tuas coxas. A vontade que eu mato, é a vontade que me mata, o jardim secreto entre o vale de tuas pernas. Meu instinto de sobrevivência me pede teu aconchego, justo agora que fui. Hoje a noite quando estiver escondida atrás de teu lençol, abre as cicatrizes deste coração, se restar algum espaço, apertado que seja, me chama. Eu volto correndo sem fingir rancor, porque meu orgulho, eu troco por um beijo dos nossos.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Despreocupar

Eu não evito as pessoas. Eu evito é todos os sentimentos que elas trazem consigo. Os problemas, as frustrações, os medos. No começo nós respiramos amor, até rompermos a superfície das emoções, lá no fundo atrás de todas essas camadas, onde moram nossos segredos, vemos nossas verdades desnudas, e como crianças perdidas choramos a procura de um abrigo, de um ombro que cubra toda nossa fragilidade. Não sei compartilhar a vida. E nas vezes que sinto a carne ferir, sou como o cachorro que sozinho lambe as próprias feridas. Sorte que hoje tem futebol e a cerveja gelada na geladeira, eu ando precisando me ocupar. Despreocupar.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Autobiografia

Ontem a noite eu descobri em um livro mais em mim do que nos últimos 20 anos. Não que eu não soubesse quem sou, mas ensaiei tão bem uma mentira, que era mais doce acreditar nela que amargar a verdade. Um estranho me chamou de solitário, ele era indiferente demais para me iludir com um elogio. E isso me fez pensar em como fui parar aqui, de todas as pessoas que conheci, só as que partiram fazem alguma falta, não sei amar quem está por perto. A autobiografia não autorizada dessa minha solidão, me deixa triste e me deixa feliz, descobri que não sou o único, há mais alguém com vazio lá fora além de mim neste quarto sem janelas. Minha vista para rua é uma parede de concreto e cimento, ainda assim querem que eu sonhe. Eu só sonho quando leio.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Adoro odiar

Eu ando deixando coisas sem importância me chatearem. E pensar que fui eu que dei todo esse significado e poder para elas. Estou sendo condescendente demais com alguns sentimentos. Tenho que me libertar de alguns preconceitos, começar a curtir horário eleitoral, 'voz do Brasil', revistas de fofoca e TV Globo. Sentir, tá muito “demodê”, mas fazer o que se sempre fui careta, sou retrô. Enchi meu saco da televisão e todo esse sensacionalismo. Sensacionalismo chega a ser um eufemismo para tanta merda. Meu prazer é esse tripudiar. É tão bom falar mau dessas coisas que adoramos odiar. Meu humor até voltou, bom ou mal, mas ele voltou.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Era Lia

Com você não havia lacunas, os espaços eram milimetricamente preenchidos pelo seu sorriso. Eu sabia de cor a cor dos teus olhos, castanhos amêndoados, os meus verdes amedrontados. Você exercia uma força estranha sobre mim. Eu era obsessivo compulsivo por você, e a minha cura é o pecado de te ter, então me pune, porque inferno é a saudade, não custa nada me entregar ao que faz mal, se este é o meu castigo por querer. Seu nome era Lia e lia-se assim, simples e fortemente, então mente e diz meu nome uma vez mais. Hoje o conforto da derrota me cai bem. Porque te perder, já não é ganhar.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Fomos para a Guerra

Nasce sol a beira do abismo, na profundeza dos meus problemas, ele vem tímido entre nuvens desse verão tão cinza. Eu carrego em mim uma tonelada das piores angústias. Parece injustiça, tentar mudar o mundo é um fardo pesado demais para carregar, mas Deus diz que eu tenho as costas largas e todos carregam o que podem suportar. Querem que ainda assim eu tenha fé, eu tenho é dó, dó de dor, de sentir que por Deus eu não sinto nada. Eu não quero pagar a conta dos pecados dos outros. Sou tão contrário e controverso, quanto o pacifista que anda de flor em mão e arma em punho. O único problema de todos os ideais revolucionários do mundo, é acreditar que todo o ser humano é em sua essência bom, quem fala isso não assisti aos jornais, eu assisti ontem e hoje acordei chorando. Eu quero paz, mesmo que isso me custe uma guerra. Tudo tem um preço. Todos. São 3 horas da tarde e o sol já bate no meu rosto, ele me cega e eu agradeço, não quero ver o que odeio lembrar.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Até o fim dos dias

Hoje durmo recostado sobre teu peito, me faço criança e caiu nos teus braços, sem medos e nem pudores, nosso amor não tinha espaço para essas vaidades. Você me embala contra o vento, que de leve brinca com meus cabelos. Cuida de mim. Nesses momentos eu estava desarmado, era mais teu, do que eu. Quando você me abraçava, eu me sentia um Deus. Essa segurança, é o que ata meus pés ao sentido da vida, ou o que me faz suportar essa falta de sentido. Se fosse te pedir algo, queria tua companhia até o fim dos dias acabar. Você acaba comigo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Só nós. Só dois.

E no bilhete dobrado, todas as letras, tão amassadas quanto nossos rostos no cedo daquela manhã, beijando com suspiros entre os travesseiros de penas bobas, que de leve da janela eram tocados pelo sol. Não sei se é o gosto do café, ou teu cheiro de menta, algo está em mim da noite anterior. Nosso amor feito em silêncio, revirando o lençol ao som de Los. Fazia tempo que não encontrava alguém que sabia amar. No papel um carinho teu, sem promessa, nem juras, apenas o sabor ácido da vontade. O querer uma vez mais, era uma quase saudade, um apelo por mais uma noite só nós. Só dois.